Você sabe, mas não quer saber. Não quer de verdade. Você sabe que vai envelhecer; isto é, se tiver a felicidade de acordar ao longo de muitas primaveras (ou invernos, ou verões, ou outonos — isto é com você.)
Conteúdo do artigo:
Uma Verdade (Muito) Inconveniente
Você vê sua vida passando diante de seus olhos, sobretudo quando ainda se encontra contemplado de capacidades que permitam que experimente a vida e não apenas a assista em seu lugar nas sombras, nos bastidores.
Num dia você comemora seu aniversário de 15 anos, e no instante seguinte encontra o seu primeiro fio branco. Por onde esteve andando este tempo todo?
Você sabe que não está ficando mais jovem.
Talvez esteja ficando careca antes dos 30. Talvez esteja ficando grisalho antes dos 40. Talvez.
Experimente aquele creme novo para rugas. Vá em frente e cubra o rosto com camadas e mais camadas do adiamento superficial do inevitável.
Você está com tudo em cima, e no segundo seguinte é atropelado. Se tiver sorte, irá ver a luz de um novo dia, pronto para seguir em frente. E irá envelhecer com as cicatrizes que testemunham sobre a história de você. Se não tiver sorte…
Bom, ainda está aí, não está? Considere-se bem aventurado por estar bem o bastante. Sua carne está envelhecendo enquanto outros tantos não tiveram tempo de descobrir quem eles poderiam ter sido.
Eis uma verdade inconveniente que tenta arrombar a porta de nossa existência desde muito antes de nascermos: todos nós iremos envelhecer, sem exceções; isto é, se tiver sorte e se isto estiver em seus planos tornar-se velho, fisicamente falando.
Você pode ter sua saúde em dia.
Pode não ter vivido a vida que tanto quis e se arrependeu disso, desejando ficar jovem outra vez.
Você pode ter feito tanta coisa.
E, ainda assim, a decomposição de todas as coisas, de todas as pessoas, do próprio tempo… Esta não será piedosa com o seu caso.
Você não é diferente de ninguém, nem especial, para que consiga fugir disso. Assim como eu também não sou. Estamos envelhecendo. Estamos no mesmo barco.
Não fuja. Basta aceitar um fato.
O Corpo, Um Invólucro
O que é o corpo? Nada além de um invólucro que nos envolve, a embalagem que guarda ou encarcera nosso ser desde o momento em que tomamos forma.
Os astros do cinema e as estrelas do rock que ainda não se apagaram ou morreram, todos eles viram dias melhores ou virão seu invólucro se desgastando. Tudo bem, eles podem pagar para acertar detalhes aqui e ali, podem recorrer aos tratamentos alternativos ou milenares de rejuvenescimento, e, ainda assim, não estão, de fato, adiando o inevitável. Também estão envelhecendo por dentro.
Tentar fugir desta realidade é pura vaidade; não que ser vaidoso seja um problema em si, mas vamos combinar: o tempo obsessivamente investido em mascarar as imperfeições da carne poderia ser utilizado em um trabalho interno de aceitação da passagem do tempo, de ressignificar toda sua vida, de não se preocupar tanto em agradar com a sua imagem, mas tornando-se muito mais seguro sobre quem você é.
Cuide-se.
Trate-se bem.
Pinte seu cabelo da cor que quiser.
Alimente-se.
Divirta-se e sorria mais.
Mas, acima de tudo, descubra-se em seu esconderijo dentro do próprio corpo.
Você não é seu corpo, mesmo que, ao moldá-lo de acordo com seus desejos e vaidades, esteja se expressando; mesmo que, ao fazer isto, talvez esteja apenas seguindo tendências, copiando outros, mesmo quando não se sente à vontade com a semelhança, e anulando-se. Bom, quem consegue ser original nos dias de hoje?
Ecos
Você sabe que não está ficando mais jovem, e ainda sorri com o mesmo brilho dos dias de sua mocidade. É o seu eu verdadeiro se manifestando por baixo da carne, em seu brilho ainda não apagado. Seu sorriso será o seu eco em seus dias e também na memória de quem segue a vida ao seu lado, seja como for.
Também é possível fazer o seu eu verdadeiro ecoar através de suas obras, por meio de ações que dizem algo a seu respeito ou que transforma a todos aqueles que tenham acesso ao que você faz ou fez.
Seu corpo é apenas um receptáculo com prazo de validade. Suas ações, o seu eu manifestado, todas estas coisas podem até imortalizá-lo, por meio da memória, nos tempos que ainda virão.